Halakhá 1
A fundação de todas as fundações e o pilar da sabedoria é conhecer que existe um Ser Primário que trouxe à existência tudo o que há. Todos os seres dos céus, da terra, e tudo que há entre eles veio à existência somente pela verdade do Seu ser.
Halakhá 2
Se alguém imaginasse que Ele não existe, não seria possível nenhum outro ser existir.
Halakhá 3
Se alguém imaginar que nenhuma das criaturas existe à parte dEle, somente Ele continuaria a existir, e a anulação da [existência] deles não anularia a Sua existência, porque todas as criaturas necessitam dEle [para existir], e Ele, bendito seja, não necessita delas nem de qualquer um. Portanto, a verdade dEle não se assemelha à verdade de nenhuma delas.
Halakhá 4
Isso está implícito pela afirmação do profeta: “E ADONAY Elohim é a verdade.” [Jr. 10:10] – Isto é, somente Ele é verdadeiro e nenhuma outro ser possui verdade que se compare à verdade dEle. Isso é o que afirma a Torá: “Nenhum outro há senão Ele.” – Isto é, à parte dEle, não há existência verdadeira, como a dEle.
Halakhá 5
Essa entidade é o Eloah do mundo, e o Senhor de toda a terra. Ele contra a esfera com poder infinito e irrestrito. Esse poder é ininterrupto, porque a esfera está constantemente revolvendo, e é impossível que revolva sem que alguém a faça revolver. Ele, que a faz revolver sem uma mão ou qualquer dimensão corporal.
Halakhá 6
O conhecimento desse conceito é um mandamento positivo, conforme [inferido de:] “Eu sou ADONAY teu Elohim…”
Qualquer que presuma que existe outro eloah transgride um mandamento negativo, conforme é dito: “Não terás outros elohim diante de Mim.” [Ex. 20:3] e nega o princípio fundamental [da Torá], porque este é o grande princípio sobre o qual tudo depende.
Halakhá 7
Este Eloah é um. Ele não é dois ou mais, mas um. Um, de uma maneira maior do que qualquer unidade que é encontrada no mundo. Isto é, Ele não é um à maneira de uma categoria geral que inclui muitos seres individuais, nem à maneira que o corpo é divisível em diferentes porções e dimensões. Ao invés disso, Ele é um, e não há outra unidade semelhante a ele neste mundo.
Se houvesse muitos deuses, eles teriam corpos e formas, porque seres assim são separados uns dos outros através das circunstâncias associadas a corpo e forma.
Se o Criador tivesse corpo e forma, Ele teria limitação e definição, porque é impossível que um corpo não seja limitado. E qualquer ser que é, nele próprio, limitado e definido tem somente poder limitado e definido. Uma vez que nosso Elohim, bendito seja o Seu Nome, possui poder ilimitado, conforme indicado pela revolução contínua da esfera, vemos que o Seu poder não é o poder de um corpo. Uma vez que Ele não tem um corpo, as circunstâncias associadas com corpos que produzem divisão e separação não são relevantes a Ele. Portanto, é impossível que Ele seja qualquer coisa exceto UM.
O conhecimento deste conceito cumpre um mandamento positivo, conforme [inferido de:] “Ouve, oh Israel, ADONAY nosso Elohim, ADONAY é UM.” [Dt. 6:4]
Halakhá 8
Eis que é afirmado explicitamente na Torá e nos Profetas que o Sagrado, Bendito seja Ele, não tem corpo ou forma física, conforme é dito: “Porque só ADONAY é Elohim, em cima no céu e em baixo na terra.” [Dt. 4:39] e um corpo não pode existir em dois lugares [ao mesmo tempo.]
Conforme é dito: “pois nenhuma figura vistes” [Dt. 4:15] e é dito: “A quem, pois, me fareis semelhante, para que Eu lhe seja igual?” [Dt. 40:25] Se Ele tivesse corpo, se assemelharia a outros corpos.
Halakhá 9
Então, qual o sentido de expressões empregadas pela Torá: “debaixo de seus pés” [Ex. 24:10] “escritas pelo dedo de Elohim.” [Ex. 31:18] “a mão de ADONAY” [Ex. 9:3] “os olhos de ADONAY” [Ex. 38:7] “os ouvidos de ADONAY” [Nm. 11:1] e semelhantes?
Todas essas [expressões] se referem ao processo do pensamento humano, que só conhece figuras de retórica corpóreas, pois a Torá fala na linguagem do homem. Eles são somente termos descritivos, conforme [o exemplo de:] “Se eu afiar a minha espada reluzente” [Dt 32:41] Ele tem espada? Acaso precisa de espada para matar? Ao contrário, esta é uma figura metafórica de retórica. [Semelhantemente,] todas [essas expressões] são figuras metafóricas de retórica.
Uma prova deste conceito: Um profeta diz que viu o Sagrado, bendito seja Ele, e “sua veste era branca como a neve” [Dn. 7:9] e outro O viu “com vestes tintas de escarlate.” [Is. 63:1] O próprio Moshé, nosso mestre, O viu no mar [dos Juncos] como um homem poderoso, operando guerra, e no monte Sinai, o viu como o líder de uma congregação, envolto.
Isto mostra que Ele não tem imagem ou forma. Todas essas são meras expressões de visão e figura de retórica profética e a verdade deste conceito não pode ser assimilada ou compreendida pelo pensamento humano. Isto é o que o versículo afirma: “Poderás descobrir as coisas profundas de Eloah, ou descobrir perfeitamente o Shaday?” [Jó 11:7]
Halakhá 10
O que Moshé, nosso mestre, desejou compreender quando solicitou: “Rogo-te que me mostres a tua glória.” [Ex. 33:18]
Ele pediu para conhecer a verdade sobre a existência do Sagrado, bendito seja Ele, até o ponto que pudesse ser internalizada dentro de sua mente, assim como alguém conhece uma pessoa em particular cuja face viu e cuja imagem foi gravada em seu coração. Assim, [a identidade d]essa se torna distinta, dentro da mente, [da identidade] de outros homens.
Semelhantemente, Moshé, nosso mestre, solicitou que a existência do Sagrado, bendito seja Ele, se tornasse distinta em sua mente da existência de outros seres, até o ponto de que ele conheceria a verdade de Sua existência, tal como ela é.
Ele, bendito seja, respondeu-lhe que não está dentro do potencial de um homem vivente, de corpo e alma, compreender este assunto inteiramente. Ele, bendito seja, revelou [a Moshé] assuntos que nenhum outro homem conhecera antes dele, nem conheceria posteriormente, até o que ele podia compreender da verdade de Sua existência, para que o Sagrado, bendito seja Ele, se tornasse distinto em sua mente de outros seres, como uma pessoa é distinta de outros homens quando alguém vê as suas costas e reconhece a estrutura de seu corpo e como está vestido.
Faz-se alusão a isto no verso: “me verás pelas costas; mas a minha face não se verá.” [Ex. 33:23]
Halakhá 11
Uma vez que foi esclarecido que Ele não tem um corpo ou forma corpórea, fica também claro que nenhuma das funções do corpo são apropriadas para Ele. Nem conexão nem separação, nem lugar nem medida, nem subida nem descida, nem direita nem esquerda, nem frente nem trás, nem levantar-se nem sentar-se.
Ele não se encontra dentro do tempo, de modo a possuir um princípio, um fim, ou idade. Ele não muda, pois não há nada que o faça mudar.
A morte não se aplica a Ele, nem a vida, no contexto de uma vida física. Tolice não se aplica a Ele, nem sabedoria em termos de sabedoria humana.
Nem dormir nem acordar, nem ira nem riso, nem alegria nem tristeza, nem silêncio nem fala, da maneira humana que se entende a fala. Nossos sábios declararam: “Acima, não há sentar-se ou levantar-se, separação ou conexão.”
Halakhá 12
Uma vez que é assim, todas as [descrições] do tipo e coisas semelhantes que são relatadas na Torá e nas palavras dos Profetas – todas elas são metáforas e figuras de retórica. “Aquele que habita nos céus se rirá.” [Sl. 2:4] “Com as suas vaidades me provocaram à ira” [Dt. 32:21] “Assim como ADONAY se deleitava” [Dt. 28:63] Acerca de todas essas afirmações, nossos sábios diziam: “A Torá fala na lingua do homem.”
Isto é: “Acaso é a Mim que eles provocam à ira?” [Jr. 7:19] “Porque Eu, ADONAY, não mudo.” [Ml 3:6] Agora, se Ele em alguns momentos se irasse e em outros ficasse feliz, Ele mudaria. Contudo, todos esses assuntos só se encontram acerca dos corpos escuros e baixos, aqueles que habitam em casas de barro, e cuja fundação é o pó. Ao contrário, Ele, bendito seja, está elevado e exaltado acima de tudo isso.