Pergunta: O que é tomar o Nome do Eterno em vão? Como sei se estou incorrendo nesse erro?
I – Introdução
Essa pergunta é muito importante. Para compreendê-la, é preciso recorrer ao hebraico para entender o sentido original.
O texto que aparece tanto em Ex. 20:6 quanto em Dt. 5:10 diz, no original:
לֹא תִשָּׂא אֶת-שֵׁם-יהוה אֱלֹהֶיךָ לַשָּׁוְא
lo tissá et-shem-Adonay elohekha lashaw
As palavras-chaves nessa passagem são “tissá” (תִשָּׂא), que é traduzido como “tomar”, e “lashaw” (לַשָּׁוְא), que é traduzido como “em vão.”
II – Tomar o Nome
Tissá vem de nassá (נָשָׂא), que significa erguer. “Erguer o nome” é uma expressão idiomática semita que significa fazer uso do nome para dar peso a uma afirmação.
Em outras palavras, geralmente se refere a um voto ou juramento, no qual o uso de um nome pretende garantir que o voto ou juramento é verdadeiro.
Vale ressaltar que o jurar, em si, não é considerado pecado no Judaísmo. Pelo contrário, o Eterno até encoraja que, se houver um juramento, que seja pelo nome dEle:
“ADONAY teu Elohim temerás e a Ele servirás, e pelo Seu Nome jurarás.” (Debarim/Deuteronômio 6:13)
Para compreender, portanto, o que é proibido, é preciso olhar para a outra palavra que define o mandamento: “lashaw” (לַשָּׁוְא).
III – Em vão
Na maioria das vezes em que aparece nas Escrituras, a raiz (שוא) significa algo falso. Por exemplo:
“Não admitirás falso [shaw – שָׁוְא] boato, e não porás a tua mão com o ímpio, para seres testemunha falsa.” (Shemot/Êxodo 23:1)
Nos próprios Dez Ditos, o mandamento contra falsos testemunhos aparece com a expressão shaqer (mentiroso) em Ex. 20, ao passo que em Dt. 5 a palavra shaw (falso) é usada:
“Não dirás testemunho mentiroso [shaqer – שָׁקֶר] contra o teu próximo.” (Shemot/Êxodo 20:16)
“Não dirás testemunho falso [shaw – שָׁוְא] contra o teu próximo.” (Debarim/Deuteronômio 20:16)
Outro sentido para o qual a mesma raiz é utilizada é para algo vazio, ou sem sentido:
“Dá-nos auxílio na angústia, porque vão [weshaw – וְשָׁ֗וְא] é o socorro do homem.” (Tehilim/Salmos 60:11)
IV – Aplicando o Versículo
Como, então, se aplica esse mandamento? Rambam (Maimônides) esclarece:
“É quando uma pessoa jura que algo é o oposto do que é de fato; ou que algo existe, quando de fato é impossível; ou que ele transgredirá um mandamento da Torá. Assim também se jura um fato óbvio e incontroverso, tal como jurar ao Eterno que qualquer coisa que é abatida irá morrer. Isso também é considerado um juramento vão.” (Sefer haMiswot – Mandamento Negativo 62)
Rambam portanto esclarece que há duas aplicações para lashaw (לַשָּׁוְא): desnecessário, ou falso.
1) O Juramento Falso
É fácil entender o que seria um juramento falso. Por exemplo, se alguém jurar que a água não evapora, está transgredindo esse mandamento.
Isso vale para situações em que a pessoa diz algo que não é verdadeiro, e em seguida acrescenta “Juro pelo Eterno!” para dar peso à sua afirmação. Por exemplo, quando está contando uma mentira porque foi pego fazendo algo suspeito.
2) Jurar contra a Palavra dEle
Também se transgride esse mandamento quando a pessoa jura em Nome do Eterno algo que é contrário ao que Ele determinou. Por exemplo, se alguém jura pelo Eterno que irá cometer um assassinato.
Ora, como há mandamento contra assassinar, então o uso do Nome do Eterno para contradizer o que Ele disse também é um uso em falsidade.
3) Jurar Obviedades
Já o uso desnecessário é um pouco mais complexo. Significa jurar algo que é óbvio, e não precisaria do peso do Nome do Eterno.
Por exemplo, se alguém jurar que à noite o sol se porá. Ora, essa é uma informação óbvia, e fato conhecido. Não há necessidade de se jurar por isso.
Nesse caso, a pessoa está tomando o Nome do Eterno para algo que não fará a menor diferença. Ou seja, o uso do Nome do Eterno é vazio.
4) Uso Banalizado
Isso também se aplicaria, por exemplo, ao mau uso que se vê hoje, com pessoas dando nomes como “Borracharia El Shaday”, “Salão de Beleza Elohim” ou coisas semelhantes.
Esse tipo de prática também seria uma transgressão a esse mandamento.
Existem outros cuidados que se deve ter com o Nome do Eterno, por respeito a Ele, mas que não serão objeto deste artigo, porque a ideia é esclarecer esse mandamento em particular.