Como sabemos quando virá o MashiaH?

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sol2Como sabemos quando virá o Mashiah? Quando ele vier, precisaremos ter fé nele? O que diz a Halakha?

Essa pergunta é de grande importância, por dois motivos. O primeiro porque a vinda do Mashiah é um dos pontos centrais da fé judaica. E o segundo porque o contato com outras religiões acaba trazendo muitas dúvidas sobre este tema.

Para nos ajudar a responder a questão, é preciso atentarmos para a halakha. A maior parte daquilo que concerne o Mashiah está disposto na Mishnê Torah – Sefer Shofetim, mais especificamente, em Hilkhot Melakhim uMilhamá, que lida com as questões dos reis de Israel. Os capítulos 11 e 12 falam sobre dois temas: Mashiah e a Era Messiânica. Neste texto, nos concentraremos mais no primeiro tema.


I – A Promessa do Mashiah

O texto diz:

Capítulo 11 – Halakha 1

No futuro, um rei Messias se levantará e renovará a Casa de Dawid, restaurando-a à sua soberania inicial. Ele construirá o Templo e reunirá os dispersos de Israel.

Então, em seus dias, a observância de todos os estatutos voltará ao seu estado inicial. Ofereceremos sacrifícios, observaremos anos sabáticos e jubileus, segundo todas as suas particularidades, conforme descrito pela Torah.

Qualquer pessoa que não acredite nisso ou não aguarde sua vinda nega não apenas as afirmações dos demais profetas, mas também as da Torah e de Moshe, nosso mestre.

A Torah testifica de sua vinda, conforme é dito: “Então Adonay teu Elohim te fará voltar do teu cativeiro, e se compadecerá de ti, e tornará a ajuntar-te dentre todas as nações … Ainda que os teus desterrados estejam na extremidade do céu, desde ali te ajuntará Adonay teu Elohim, e te tomará dali… e te trará à terra [que teus pais possuíram]” [Dt. 30:3-5]

Essas claras palavras da Torah englobam as afirmações feitas por intermédio de todos profetas.

Há referência ao Messias também na porção de Bil’am, que profecia sobre dois reis ungidos: o primeiro rei ungido, Dawid, que salvou Israel de seus opressores. E o último rei ungido que se levantará de seus descendentes para salvar Israel dos filhos de ‘Essaw.

Nela é dito: “Vejo, mas não agora” – Isso se refere a Dawid; “Percebo, mas não no futuro próximo.” – Isso se refere ao rei Messias.

“Esmagando todos os príncipes de Moav” – Isso se refere a Dawid, confomre é dito: “Também derrotou os moabitas; e mediu-os com uma corda.” [2 Sm. 8:2]

“dizimando todos os descendentes de Shet” – Isso se refere ao rei ungido, sobre o qual é profetizado: “dominará desde um mar até ao outro” [Zc. 9:10]

“Edom será demolido” – Isso se refere a Dawid, conforme é dito: “Edom e todos os edomeus ficaram a ser seus súditos.” [2 Sm. 8:14]

“Seir será destruido” – Isso se refere ao rei ungido, conforme é profetizado: “Depois irão, vitoriosos, ao monte Sião, e, de lá, hão-de governar o território montanhoso de ‘Essaw.” [Ob. 1:21]

Como se pode perceber, Mashiah é uma promessa que está contida na Torah. Porém, observe que não existe qualquer referência a nenhum tipo de ‘ser milagroso’ ou qualquer realidade espiritual acerca de sua vinda.

A promessa de Mashiah nada mais é do que uma parte da promessa da restauração de Israel, do fim do exílio, e do restabelecimento da dinastia davídica.

A única razão pela qual a vinda de Mashiah faz parte dos pontos centrais da fé judaica é por causa de sua relação, através da Torah e dos Profetas, com a restauração de todas as coisas.


II – Sinais, Prodígios e Milagres

O texto continua:

Capítulo 11 – Halakha 3
Não se deve supor que o rei Mashiah deva operar milagres e prodígios, ou trazer novos fenômenos ao mundo, ressuscitar os mortos, ou realizar outras obras semelhantes. Isso certamente não é verdade.

A prova disso pode ser trazida pelo fato de Rabi ‘Aqiva, um dos grandes sábios da Mishná, ter sido um dos que apoiou o rei Ben Kozeba [Bar Kokhba] e o descrevia como o rei Mashiah. Ele e todos os sábios de sua geração o consideravam ser o rei Messias até que ele ele foi morto por causa de pecados. Uma vez que ele foi morto, eles perceberam que ele não era o Messias. Os sábios não pediram a ele que fizesse nenhum sinal ou prodígio.

Como se observa, não existe nenhuma exigência de sinais, prodígios ou milagres acompanhando a vinda de Mashiah. Isso ocorre simplesmente porque Mashiah não será nem sacerdote, nem profeta, mas sim unicamente um líder político-militar. Esse fato ficará mais claro mais adiante.

Como a Torah e os Profetas já falam sobre a vinda de Mashiah, a única coisa que devemos fazer é aguardar que a profecia se cumpra. Nossa única obrigação é crer na promessa da profecia.

Observe o exemplo dado por Rambam (Maimônides) com relação a Bar Kokhba. De início, devido ao sucesso provisório que ele obteve contra Roma – pois ele chegou a restabelecer o reinado da dinastia davídica – muitos chegaram a dizer que ele era o rei Mashiah. Quando ele morreu, contudo, ficou claro que não era, pois Mashiah não pode morrer sem cumprir as profecias descritas sobre a redenção de Israel.


III – Identificando o Mashiah

Identificar o Mashiah não é tarefa difícil. Só o parece porque pessoas de outras religiões insistem em aplicar tais conceitos aos seus falsos messias. A halakha, contudo, esclarece:

Capítulo 11 – Halakha 4a-b
Se um rei se levantar da Casa de Dawid que diligentemente contemplar a Torah e observar suas miswot como prescrito na Torah shebikhtav weshebe’al peh, tal como Dawid, seu antepassado, e compelir Israel andar [na Torah] e retificar as transgressões à sua observância, e lutar as guerras de Elohim, poderemos, com segurança, considerá-lo Mashiah. Se ele suceder no acima, construir o Templo em seu lugar, e ajuntar os dispersos de Israel, ele definitivamente é o Mashiah.

Ele então melhorará todo o mundo, motivando as nações a servirem a Elohim juntas, conforme é dito: Porque então darei uma linguagem pura aos povos, para que todos invoquem o nome de Adonay, para que o sirvam com um mesmo consenso. [Sf. 3:9]
Se ele não foi bem sucedido quanto a isso ou foi morto, ele certamente não é o redentor prometido pela Torah. Ao contrário, ele deve ser considerado como todos os outros reis adequados e completos da dinastia davídica que morreram. O Eterno o fez se levantar somente para testar os muitos, conforme é dito: E alguns dos entendidos cairão, para serem provados, purificados, e embranquecidos, até ao fim do tempo, porque será ainda para o tempo determinado. [Dn. 11:35]”

Observe o que Mashiah deve fazer:

  • Levar Israel a voltar a observar a Torah.
  • Liderar Israel nas últimas guerras contra as nações, conforme profetizado.

Esses são os dois critérios mínimos para que alguém possa ser declarado Mashiah. Além disso, duas coisas também devem acontecer durante a sua vida:

  • O reajuntamento definitivo dos exilados de Israel.
  • A reconstrução do Templo.

Esses são os quatro sinais de que o Mashiah terá vindo. Repare ainda que se ele morrer antes disso, no máximo ele pode ser considerado como um dos reis de Israel, mas certamente não como o Mashiah profetizado para os tempos da restauração.

Se ele nem mesmo reinar sobre Israel, então não é considerado nem isso. É o caso de muitos dos falsos messias que surgiram, tais como Yeshua (Jesus) e Shabetai Sevi.


IV – Falsos Messias

Alguém poderia se indagar: Por que o Eterno permite que falsos messias surjam? Rambam (Maimônides) responde a isso, dando continuidade ao texto:

Capítulo 11 – Halakha 4c-i

Yeshua [Jesus] de Nazaré, que aspirou ser o Mashiah e foi executado pela corte [romana] também foi aludido nas profecias de Daniel, conforme é dito: “E homens impetuosos hão-de surgir dentre o teu povo, para cumprir a visão, mas serão mal sucedidos.” [Dn. 11:14]

E esse homem é uma grande armadilha. Todos os profetas falaram de Mashiah como o resgatador de Israel e o salvador que reuniria os seus dispersos e fortaleceria sua observância nos mandamentos. Ao invés disso, por causa dele os judeus foram mortos à espada, seu remanescente espalhado e humilhado, a Torah foi alterada, e a maior parte do mundo erra e sere a um deus que não é Adonay.

Mesmo assim, o homem não tem poder de compreender a intenção do Criador do mundo, pois os Seus caminhos não são os nossos caminhos, e os Seus pensamentos, [não são] os nossos pensamentos.

Por fim, todas as obras de Yeshua [Jesus] de Nazaré e o ismaelita que se levantou depois dele [i.e. Maomé] servirão apenas para preparar o caminho para a vinda do Mashiah e o aperfeiçoamento de todo o mundo, motivando as nações a servirem a Adonay juntas, conforme é dito: “Então, darei aos povos lábios puros, para que todos possam invocar o nome de Adonay e servi-lo de comum acordo.” [Sf. 3:9]

Como isso acontecerá? O mundo inteiro já se encheu de menções a Mashiah, à Torah, e aos mandamentos. Esses assuntos se espalharam até as ilhas mais longínquas de muitas nações de coração teimoso. Eles discutem esses assuntos e os mandamentos da Torah, dizendo: “Esses mandamentos eram verdadeiros, mas já foram negados na época atual e não se aplicam para todo o tempo.”

Outros dirão: “Implícitos nesses mandamentos estão conceitos ocultos que não podem ser entendidos de forma simples. Mashiah já veio e nos revelou essas verdades ocultas.”

Quando o verdadeiro rei Mashiah se levantar e provar ser bem-sucedido, sua posição se tornando exaltada e erguida, todos eles se voltarão e perceberão que seus antepassados os dotaram de uma falsa herança e que seus profetas e antepassados os fizeram errar.

Rambam é taxativo: Tais falsos messias e líderes são um engano que as nações preferiram ao invés da verdade do Monoteísmo.

Porém, para Rambam, o Eterno é misericordioso no sentido de que, como essas nações basearam seus enganos na verdade da Torah, embora neguem sua validade, as nações estão gradativamente sendo preparadas para a verdadeira revelação, do verdadeiro Mashiah.

Quando isso ocorrer, uma das funções dele será também participar na condução das nações à adoração monoteísta ao único Elohim, o que ocorrerá após as nações serem derrotadas na guerra final contra Israel.


V – Quando isso ocorrerá? 

Uma vez que foram entendidos os sinais da vinda de Mashiah, resta ainda a pergunta: Quando isso ocorrerá? Sobre isso, a halakha diz:

Capítulo 12 – Halakha 2
Semelhantemente, não se deve tentar determinar o tempo apontado para a vinda do Mashiah. Nossos sábios declararam: ‘Que as almas daqueles que tentam determinar o tempo da vinda do Mashiah expirem!’ Ao invés disso, deve-se aguardar e acreditar na concepção geral do assunto, conforme explicado.

Não apenas a data de sua vinda é um mistério, como a halakha ainda proíbe que se tente adivinhar. Afinal, tais tentativas de adivinhações já causaram grandes e graves problemas a Israel, então é apenas compreensível que assim seja.


VI – Ausências Notáveis

É importante ainda, devido à influência de outras religiões, observar ainda que conceitos estão ausentes da halakha, e portanto, não dizem respeito a Mashiah ou à sua vinda. São eles:

  • Mashiah não será uma semi-divindade.
  • Mashiah não será um sacerdote ou sumo-sacerdote. Pelo contrário, espera-se pelas profecias bíblicas que o sumo-sacerdócio na época pertença aos filhos de Sadoq.
  • Mashiah não será um sacrifício expiatório por pecado algum. Até porque a ideia de sacrifício humano é abominável, desnecessária e estranha ao Judaísmo.
  • Não existe uma obrigação no nível pessoal de identificar esse ou aquele personagem como Mashiah. A identificação será clara quando as profecias se cumprirem, e tal função compete exclusivamente ao Sanhedrin.
  • Não existe qualquer penalidade se não identificarmos o candidato X ou Y como Mashiah.
  • Mashiah em si não é objeto de fé. Nossa fé é apenas na promessa de Elohim de enviá-lo, restaurando a dinastia davídica, e não na pessoa do Mashiah, o que seria idolatria, e um conceito estranho ao Judaísmo.
  • Não existem duas ou mais vindas de Mashiah. Até porque se assim fosse, qualquer pessoa poderia ser Mashiah, bastando declarar que as profecias que morreu sem cumprir ficam para a próxima vez. As profecias do Tanakh são claras e objetivas, e não permitem jeitinho.


VII – Conclusão

Como se pode perceber, o assunto de Mashiah é algo bem simples, e não deve ser objeto de angústia ou confusão para ninguém. As profecias e expectativas são claras, e se alguém não as cumpre com a máxima clareza, ou se as cumpre parcialmente, e morre, não era Mashiah. Na melhor das hipóteses, era apenas um dos reis comuns. Na pior, era um impostor.

Mashiah está ligado à restauração do Reino de Israel, à vitória final nas guerras, ao reajuntamento do povo, à reconstrução do Templo, e ao retorno à Torah. Qualquer coisa que desvie disso não tem a ver com Mashiah.

Para que alguém cumpra a função de Mashiah, basta cumprir tais profecias. Sinais, prodígios, e milagres são desnecessários e irrelevantes, pois o que importa é o que foi profetizado na Torah e nos profetas.

Mashiah, enquanto personagem, também não é objeto de fé, culto, ou adoração, nem é uma divindade intermediária. Não é nem sequer o sumo-sacerdote, mas sim um líder político-militar da dinastia davídica. Novamente, qualquer coisa que se desvie disso, na melhor das hipóteses, não tem relação com o Tanakh. Na pior, trata-se de sincretismo religioso e importação de costumes pagãos sobre divindades intermediárias e heróis mitológicos.

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